Oscar 2024: quem leva em Melhor Trilha Sonora e Canção Original?
Já foi vídeo, já foi podcast, agora é texto
Dentro de todo material produzido por mim ao longo dos anos em diversas mídias, um dos mais longevos é falar dos indicados ao Oscar em Melhor Trilha Sonora e Canção Original. Já foi vídeo no YouTube e já foi podcast, mas abandonei os formatos ou por mudanças de regras absurdas, ou pelo desequilíbrio entre esforço em comparação a falta de audiência. Como tenho gostado muito de fazer a newsletter, um trabalho mais longo e com outro olhar, resolvi trazer para cá, agora em texto, esses palpites.
Funciona assim: assisto aos filmes indicados, ouço as trilhas sonoras e fico de olho nas premiações ao longo das últimas semanas — algumas funcionam como bons indicadores de potenciais vitórias, principalmente a do respectivo sindicato, outras apenas como ferramenta de marketing para incrementar campanhas junto aos votantes da Academia.
Abaixo, segue a análise e os comentários sobre cada um dos indicados. Aqui, o foco está na trilha sonora, não nos filmes. E, por favor, deixem nos comentários quem vocês gostariam de ver levando o Oscar para casa.
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Melhor Trilha Sonora
“Assassinos da Lua das Flores”
Já falei da trilha sonora composta por Robbie Robertson (1943–2023) assim que assisti ao filme nos cinemas, então, em linhas gerais, é um trabalho muito bonito que chegou a ser considerado favorito, mas acabou perdendo fôlego quando o novo ano começou. Seria lindo se ele vencesse, uma bela homenagem a um dos grandes músicos do século XX.
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“Indiana Jones e A Relíquia do Destino”
A grande surpresa da temporada de premiações, a trilha sonora composta por John Williams segue a linha dos trabalhos mais pop da carreira dele, com o ponto de se autorreferenciar o tempo inteiro — são cinco filmes com o mesmo personagem, é mais do que justo. Aos 92 anos, acho que nem ele mesmo esperava essa indicação nesse momento da vida e da carreira, então é impossível cobrar qualquer mudança estética ou sobre a maneira de compor. É desses trabalhos reconhecíveis há quilômetros de distância, mesmo para quem só é mais familiarizado com os temas mais famosos.
Os 18 temas trazem aquilo que os fãs de Indiana Jones esperam: um misto de melancolia e muita aventura, um equilíbrio que fez do personagem interpretado por Harrison Ford ser amado por milhões de pessoas ao redor do mundo. E foi esse estilo que fez de Williams um compositor tão admirado pelos fãs como os diretores e protagonistas dos filmes em que trabalhou.
Com oito indicações nas últimas 13 cerimônias, totalizando 49 ao todo, Williams se consolidou como um dos grandes compositores da história do cinema, mesmo com a última vitória sendo por “A Lista de Schindler”, em 1994. Mais como homenagem e menos como favoritismo, será a grande surpresa da noite se vencer.
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“Ficção Americana”
Outra surpresa dentre os cinco indicados, o trabalho de Laura Karpman ganha melhor entendimento ao assistir ao filme e ouvir a trilha logo em seguida por seguir a melhor tradição do jazz americano. Dá para entender o motivo de os votantes terem gostado tanto da trilha a ponto de indicá-la ao Oscar pela primeira vez na carreira.
Interessada por música desde os sete anos, a compositora se dedicou ao jazz e ópera desde criança. Quem conviveu e estudou, da infância ao final da faculdade, sabia que ela estava destinada a coisas grandes em qualquer coisa que fizesse na carreira. Calhou de ir para Hollywood, onde trabalha em trilhas de filmes, séries e documentários desde 1997. Recentemente, Karpman esteve nas trilhas sonoras das séries “What If....” e “Mrs. Marvel” e no filme “As Marvels”, consolidando de vez o nome em produções de grande apelo junto ao público e crítica, independentemente de ser bom ou não.
Indicada ao Oscar pela primeira vez, ela usa todo conhecimento de mais de 40 anos de carreira em mesclas de temas pungentes e melancólicos ao mesmo tempo que também opta por improvisos bem calculados para deixar todo trabalho fluido ao longo de quase 48 minutos de duração. É uma ótima trilha.
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“Pobres Criaturas”
Yorgos Lanthimos é um cineasta que ultrapassa limites na direção e nos roteiros dos filmes, então “Pobres Criaturas” não foge dessa linha em momento algum. A trilha sonora foi composta pelo músico britânico Jerskin Fendrix, apelido para Joscelin Dent-Pooley. Ele cresceu ouvindo música sacra, rap e as trilhas sonoras das animações da Disney lançadas nos anos 1990.
Foi ouvindo o álbum “Winterreise”, de 2020, durante a pré-produção do filme, que o diretor ficou encantado com a libertação musical feita por Fendrix nas faixas. Sem amarras e regras, ele é livre para criar o que deseja tocar. Livre como a personagem principal, interpretada por Emma Stone, inspiração para os temas do início ao fim — “as notas musicais são uma prisão”, como diria Tom Zé. Contratado seis meses antes das filmagens, o compositor baseou os temas apenas no roteiro, nos desenhos da pré-produção e nos cenários.
Caso fosse votante, certamente seria minha escolha. A anarquia musical, a maneira como ele explora os sentimentos de Bella Baxter e a intensidade disso são incríveis. Ele merecia muito vencer logo na primeira indicação, mas não vai.
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“Oppenheimer”
O grande favorito para vencer é Ludwig Goransson, dono de uma estatueta pelo trabalho feito na trilha sonora de “Pantera Negra”, de 2018. O reconhecimento por “Oppenheimer” ganhou corpo no início do ano e, desde então, vem se consolidando como favorito à disputa a cada premiação, musical ou não, nas últimas semanas.
Não tem como não falar da grandeza de “Oppenheimer”, um filme feito mi-li-me-tri-ca-men-te para ganhar vários prêmios na temporada e com enorme potencial para fazer história no Oscar, caso o favoritismo se confirme. Goransson usa muitos arranjos de corda e carrega na carga dramática sem dó. Conhecido por ser um estudioso, ele foi fundo na história da trilha sonora dos dramas para conseguir inspiração na construção do pano de fundo de uma cinebiografia de três horas — a trilha tem mais de 1h30 de duração.
O compositor sueco vai construindo uma carreira das mais sólidas nos últimos anos na TV e no cinema. A provável segunda estatueta da carreira o coloca em um patamar dos raros compositores a vencer mais de uma vez o prêmio. E, como quem não quer nada, entra para história.
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Quem deveria ter sido indicado, mas não foi: Mica Levi, por “Zona de Interesse”.
Melhor Canção Original
Os indicados da categoria trazem a surpresa da indicação de Diane Warren por “The Fire Inside” uma prova que, muitas vezes, as relações-públicas superam a qualidade de qualquer trabalho, mas ela não é a favorita (ainda bem). Desta vez, “Barbie” tem grandes chances de levar o Oscar para casa na categoria. Depende apenas de como os votantes vão direcionar as próprias escolhas.
Se a piada de Ryan Gosling cantando “I’m Just Ken” for longe demais — também para agradar uma parcela do público —, Mark Ronson e Andrew Wyatt podem levar o prêmio pela composição da música e da letra. Caso os votantes tenham o mínimo de noção, “What Was I Made For?”, de Billie Eilish e Finneas, ganha. Seria o segundo prêmio dos irmãos, vencedores por “No Time To Die”, tema de “007: Sem Tempo para Morrer”.
Meu voto seria em “Wahzhazhe (A Song For My People)”, presente em “Assassinos da Lua das Flores”. É um filme muito forte, com uma mensagem muito poderosa, que merecia mais atenção da Academia.
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Quem deveria ter sido indicado, mas não foi: “Road to Freedom”, de Lenny Kravitz, do filme “Rustin”.
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Bom final de semana a todos!
Eu nem vi Rustin ainda, mas Lenny Kravitz ser subvalorizado é apenas um fato. Esse homem merecia mais.
Enquanto Rustin foi indicado, a trilha não. O filme tem até uma boa proposta, mas a execução é bem questionável. haha