In-Edit Brasil, dia 10: e acabou
Críticas de “Goiânia Rock City” e “Cazuza: Boas Novas”
“Goiânia Rock City” (2025, Théo Farah)
Quando se pensa em Goiânia hoje, vem na cabeça coisas como sertanejo, agronegócio, Ronaldo Caiado falando alguma barbaridade para chamar a atenção e devastação do meio ambiente. Mas também há uma bonita história da cena de rock local do final dos anos 1990 e início da década seguinte, inspirada pelo boom de artistas novos no período. O diretor Théo Farah traz um resumo da luta por um lugar ao sol no competente “Goiânia Rock City”.
O longa faz uma boa opção de contar da história do começo e dividi-la em capítulos para ajudar gente como eu, que não tinha a menor ideia dessa movimentação e da força construída na base do clássico “faça você mesmo”. Das bandas apresentadas e representadas, a única conhecida por mim era o Hellbenders — eles fizeram muito sucesso no final da primeira década dos anos 2000, com clipe passando na MTV Brasil e tudo.
Tal qual em muitos outros lugares do mundo, a cena começou meio do nada e logo chegaram os primeiros selos, eventos e festivais para dar vazão a tudo isso. E como em muitos outros lugares, dificuldades e empolgação se misturavam como uma coisa só para dar um tempero a mais na luta por espaço graças a um personagem fundamental e um local muito especial — sem spoilers aqui, por favor.
O rock de Goiânia ainda é forte, principalmente pelo Goiânia Noise Festival e o Bananada, dois dos melhores e mais tradicionais festivais de música, mas não é mais a mesma porque as pessoas crescem, novos interesses aparecem e as coisas mudam. Apesar dessas coisas, história é algo que ninguém apaga.
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“Cazuza: Boas Novas” (2025, Nilo Romero & Roberto Moret)
Quando uma cinebiografia sobre alguém é lançada, fica muito difícil fazer um documentário do retratado por uma série de fatores. Então, o melhor é tentar focar em algum recorte para tentar não cair na vala comum. “Cazuza: Boas Novas” explora os últimos anos da vida do cantor, quando ele lançou os álbuns “Ideologia”, “O Tempo Não Para” e “Burguesia”.
Codirigido por Nilo Romero e Roberto Moret, o documentário conta com um elenco de primeira nos depoimentos para traçar a vida e os últimos momentos do cantor, melhor do que nunca nos palcos e com uma vontade de escrever cada vez maior. A AIDS, na época, era uma doença mortal e todo mundo sabia que, infelizmente, ele tinha prazo de validade.
Meu incômodo com a edição é colocar Romero como alguém exageradamente ativo no trabalho e. sem qualquer necessidade, a edição mostra ele balançando a cabeça durante algumas entrevistas e na frente da câmera em várias intervenções. É muito fora do tom e, pessoalmente, não acredito ser o papel de um documentarista. Se aviso colocado por Quincy Jones antes da gravação de “We Are the World” dizia para deixar o ego do lado de fora, ele precisava ter deixado o dele em casa na hora da finalização.
Fora esse problema, o longa consegue falar desse período criativo bem e, com ajuda de ótimas imagens de arquivo, mostra como, apesar das dificuldades, Cazuza tinha uma chama que lutou muito para ser apagada ao entregar três dos mais importantes e celebrados discos dos anos 1980 em um material que ajuda entender como o cantor atingiu a maturidade pouco antes de partir.
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