O Ghost chamou minha atenção, quando ainda havia o B.C. no nome, no Rock in Rio de 2013. Não sei quantas vezes vi e ouvi aquela curta apresentação, mas passei a gostar tanto que digo a todos que eles são minha banda preferida de metal – a segunda, claro, são as Babymetal. À medida da evolução do repertório, Tobias Forge começou a fazer do Papa um personagem cada vez mais marcante a ponto de gerar expectativa pelo próximo. “Skeletá”, sexto disco de estúdio do grupo, trouxe o Papa V Perpetua como nova pessoa a quem os fãs devem adorar pelos próximos anos.
Uma característica muito positiva de Forge é conseguir usar a força de imagem do personagem escolhido da vez e aliá-la com um repertório que condiz com o momento. Sim, todos os discos levam o nome do Ghost na capa, mas são mais sobre a mensagem a ser passada da vez do que, necessariamente, representar algo do metal ou qualquer derivado do gênero. Por isso, é muito provável e já li por aí, que uma galera mais conservadora não gostou muito do disco – uma reação natural e completamente esperada, vamos combinar.
Nesse álbum em particular, o Ghost se consolida como uma banda de rock de arena, dessas que não farão feio em um lugar grande e lotado. O início potente com “Peacefield”, com momentos grandiosos no começo e no início da segunda metade, dá o tom do que vem pelos próximos 46 minutos. No contexto desse novo “papado”, um dos pontos positivos da composição de Forge é a qualidade em fazer bons refrões e bons ganchos, como a sequência formada por “Lachryma” e “Satanized” sendo bons exemplos disso – veremos mais ao longo do trabalho.
Muita gente se fixa no lado mais pop deles, mas há um importante espaço para melancolia em “Guiding Lights” (“That the road that leads to nowhere is long/ And that those who seek to go there are lost/ The guiding lights (lights), they lead you on/ And the road that leads to nowhere is long)”, quando Forge mostra ter qualidade em uma letra de puro desabafo. E se “De Profundis Borealis” e “Missilia Amori” apelam ao básico do hardrock, “Cenotaph” joga o lado pop da banda para jogo de um jeito nunca visto na discografia em uma canção com todos os elementos do estilo. É deliciosa (“Through the sensations/ On through the storms/ Like you used to be/ Wherever I go/ You're always there/ Riding next to me”).
“Marks of the Evil One” traz a mentira como ponto central da narrativa e acerta ao usar as melhores referências do metal melódico para contar essa história – a guitarra é o grande destaque. O romantismo, vamos dizer assim, é o tema principal “Umbra”, essa com todos os elementos do metal clássico para deixar os fãs antigos satisfeitos. Para encerrar, “Excelsis” traz a morte nas palavras, porém chega para celebrar a vida que temos e como aproveitá-la é fundamental em todos os aspectos (“Come with me to the rainbow's end/ Come with me to the Holy Land/ Come with me/ You will, too, I will, too/ Excel, excel, excel, excel”).
Gostar do Ghost veio naturalmente, primeiro impressionado com o show em si, depois com o repertório. Ao longo dos últimos anos, a banda evoluiu musicalmente a ponto de conquistar mais e mais fãs ao incorporar elementos de diversos estilos e não se prender ao que funcionou. “Skeletá” marca uma nova e importante fase, um momento único de consolidação em mais de uma década de trabalho duro.
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Tracklist:
1 - “Peacefield”
2 - “Lachryma”
3 - “Satanized”
4 - “Guiding Lights”
5 - “De Profundis Borealis”
6 - “Cenotaph”
7 - “Missilia Amori”
8 - “Marks of the Evil One”
9 - “Umbra”
10 - “Excelsis”
Avaliação: ótimo
Gravadora: Loma Vista
Produção: Gene Walker
Duração: 46 minutos
Papa V Perpetua (Tobias Forge): vocal
Ghouls: instrumentos diversos
Fredrik Åkesson: guitarra
Salem Al Fakir: teclado
Andy Wallace e Dan Malsch: mixagem
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