Crítica: Bon Iver - Sable, Fable
Justin Vernon retoma projeto após seis anos sem um disco de inéditas
Bon Iver é um dos compositores queridinhos de nove entre dez fãs de música indie, principalmente pelo repertório sofrido apresentado em vários álbuns ao longo da carreira. Assim como Aaron e Bryce Dessner, do The National, ele também se embrenhou pela música de massa nos últimos anos com participações em discos de Taylor Swift e Charli XCX, além de ter se mudado para Los Angeles. Esse lado solar e mais tranquilo aparece em “Sable, Fable”, quinto disco de estúdio da carreira.
Habilmente dividido em duas partes, o disco começa com o EP “Sable”, lançado ano passado, com um zumbido e definitivamente com “Things Behind Things Behind Things”, quando o cantor mostra estar em uma nova fase pessoal e profissional, pronto para encarar novos desafios de maneira serena e tranquila. Para isso, ele precisa pedir desculpas a todos que magoou ao longo dos anos, quando passava por crises pesadas e chegava a virar uma pessoa violenta por conta do excesso de álcool, em “Speyside”. Ele fecha a primeira parte com “Awards Season”, um resumo de como a vida é uma mistura de aceitação e negação o tempo inteiro. Ao mais falar do que cantar, Justin Vernon consegue dar um tom ainda mais melancólico ao discurso.
A segunda parte, “Fable”, tem muitos elementos eletrônicos, sintetizadores e inúmeras participações e começa com “Short Story”, que emenda com a romântica “Everything Is Peaceful Love”, um soul que a deixa como uma das grandes faixas do trabalho (“And damn if I'm not climbing up a tree right now/ And every little thing is love/ And right with mе/ And how am I to know that someday you might change the road?/ I caught an offеring/ That's a burning ring”). A seguinte, “Walk Home”, é sobre sexo. E é deliciosa de ouvir do início ao fim.
O disco emenda o tom quase religioso misturado com soul (“Day One”), uma balada romântica das mais bonitas (“From”) e com a ótima “I'll Be There”, com um otimismo acima do normal para um álbum de Bon Iver (“(I) Said, ‘I'll be there’/ I won't move, movе/ Tell me more, or tеll me nothing/ Said, ‘I'll be there’/ I won't move, move/ Tell me more, or tell me nothing”). E Danielle Haim, das Haim, chega para participar da etérea e tristonha “If Only I Could Wait”, quando o destaque fica para o arranjo de cordas ao fundo — faz toda diferença na concepção da faixa, cheia de efeitos.
Um dos trunfos do álbum é a delicadeza de algumas faixas, caso de “There's a Rhythmn”. Essa balada é tão linda e discreta que emociona do início ao fim, um acerto enorme em um trabalho cheio de acertos. O álbum termina com a instrumental “Au Revoir”, um encerramento certeiro.
No ano em que completa 20 anos de carreira, Justin Vernon faz de Bon Iver o projeto definitivo ao mostrar evolução musical e pessoal em canções sobre amor, sexo, liberdade, crescimento e evolução profissional. Um dos melhores álbuns desse primeiro semestre, “Sable, Fable” mostra como é sempre possível evoluir em todos os aspectos da vida.
Assine
Por apenas R$ 5 por mês ou R$ 50 no plano anual, você ajuda a manter o trabalho por aqui e fortalece o jornalismo independente. É importante porque o algoritmo do Google e a inteligência artificial, em outras palavras, estão f*dendo meu trabalho no site.
Tracklist:
Disco 1
1 - “...”
2 - “Things Behind Things Behind Things”
3 - “Speyside”
4 - “Awards Season”
Disco 2
1 - “Short Story”
2 - “Everything Is Peaceful Love”
3 - “Walk Home”
4 - “Day One” (feat. Dijon and Flock of Dimes)
5 - “From”
6 - “I'll Be There”
7 - “If Only I Could Wait” (feat. Danielle Haim)
8 - “There's a Rhythmn”
9 - “Au Revoir”
Avaliação: ótimo
Gravadora: Jagjaguwar
Produção: Justin Vernon, Jim-E Stack, BJ Burton, Brian F Joseph e Samuel Tsang
Duração: 42 minutos
“Sable”
Justin Vernon: vocal, guitarra, baixo, engenheiro de som, mixagem, bateria (faixas 1 e 2) e teclado (faixa 4)
Michael Lewis: piano, órgão e saxofone (faixa 4)
Greg Leisz: guitarra (faixas 1, 2 e 4)
Ben Lester: guitarra (faixas 1 e 2)
Trever Hagen: flauta e trompete (faixas 1 e 2)
Rob Moose: viola (faixa 3)
Eli Teplin: sintetizador (faixa 4)
Blake Morgan: vocal (faixa 4)
Carter Faith: vocal (faixa 4)
Ian Gold e Kyle Parker Smith: engenheiro de som
BJ Burton e Javier Martinez Cruces: engenheiro de som na faixa 4
Tofer Brown: gravação da faixa 4
Heba Kadry: masterização
“Fable”
Justin Vernon: vocal, baixo (faixas 1 a 6 e 8), guitarra (1, 2, 4, 5 e 7 a 9), sintetizador (faixas 1 e 3), teclado (faixas 2, 5, 6 e 9), samples (faixas 3 e 7), piano Wurlitzer (faixas 4 e 8), bateria (faixas 5 e 6) e percussão (faixas 6 e 8); engenheiro de som
Jenn Wasner: vocal (faixas 1, 3, 4 e 8), sintetizador (faixas 2 e 3) e improvisos (faixa 9)
Sean Carey: vocal (faixas 1 e 8), escova (faixa 6), slab (faixa 7), bateria, teclado (faixa 8) e improviso (faixa 9)
Michael Lewis: piano, tuba (faixa 6), slab (faixa 7), saxofone (faixas 7 e 8) e improviso (faixa 9)
Andrew Fitzpatrick: improviso (faixa 9)
Matt McCaughan: improviso (faixa 9)
Jim-E Stack: bateria (faixas 1 a 4, 6 e 7) e samples (faixas 3, 6 e 7), programação (faixa 5) e piano (faixa 9)
Eli Teplin: piano (faixas 1, 3, 4, 6 e 8), teclado (faixas 4, 6 e 8) e slab (faixa 7)
Rob Moose: violino, viola (faixas 1 a 3, 7 e 8) e arranjos (faixas 1, 2 e 3)
Blake Morgan: vocal (faixas1 e 6)
Alan Good Parker: guitarra (faixas 1 e 6)
Rahm Silverglade: sintetizador (faixa 1)
Kacy Hill: vocal (faixa 1)
Asher Weisberg: sintetizador granulado (faixa 2) e computador (faixa 6)
Greg Leisz: guitarra (faixas 2 e 8)
Ben Lester: guitarra (faixa 2)
BJ Burton: bateria (faixa 2)
Samuel Tsang: piano, sintetizador e programação (faixa 4)
Dijon: vocal (faixa 4)
Cory Henry: guitarra (faixa 4)
MonoNeon: guitarra (faixas 4 e 6)
Alaina Rose Brown, Denise Stoudmire e Joshua Brown: vocal (faixas 5, 6 e 8)
Jacob Collier: vocals (faixa 5)
Michael Gordon: guitarra (faixa 5), piano e órgão (faixa 6)
Danielle Haim: vocal (faixas 6 e 7)
Brian F. Joseph: bateria (faixa 8)
Chris Messina: improvisação (faixa 9)
Ian Gold: engenheiro de som
Rob Moose: engenheiro de som (faixa 1, 2, 7 e 8)
BJ Burton: engenheiro de som (faixa 2)
Javier Martinez Cruces: engenheiro de som (faixa 4)
Vic Steffens: engenheiro de som (faixas 5, 6 e 8)
Brian F. Joseph: engenheiro de som (faixa 8)
David Wrench: mixagem (faixa 1 e 6 a 9)
Keiron Beardmore, Matt Wolach e Spike Stent: mixagem (faixa 2 a 4)
Shawn Everett: mixagem (faixa 5)
Heba Kadry: masterização
Veja também:
A música também estava na TV
Fui uma criança criada ao longo de toda década de 1990 em um bairro da periferia de São Paulo. Como praticamente todo mundo daquela época, a TV era um item fundamental na casa, com todo mundo tendo seus horários determinados para ter o único aparelho para si por alguns minutos ou horas a depender do dia, da programação ou da vontade em largar o controle…
Crítica: Deafheaven - Lonely People with Power
Ao partir para uma mudança, uma banda passa pela própria experiência de fazer algo diferente, enquanto dá para as pessoas algo para pensar: afinal, por que eles mudaram? No caso do Deafheaven, “Infinite Granite” (2021) veio com uma nova abordagem ao partir para algo mais próximo do shoegaze, muito diferente dos gritos cheios de agonia e dos instrumentos…
Crítica: Elton John & Brandi Carlile - Who Believes in Angels?
Há quase dois anos, Elton John fez o último show e pôs fim a uma vida na estrada de quase 60 anos tocando nos mais variados lugares pelo mundo. Mas ele deixou claro que seguiria fazendo discos e lançando músicas, afinal a criatividade não acaba quando as cortinas do espetáculo fecham. Nos últimos anos, o pianista colaborou com diversos outros artistas m…
Gostou do meu trabalho? Mande a newsletter para um amigo e compartilhe nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp e Telegram!