Cinco discos que ouvi nos últimos dias #6
Uma das seleções mais diversas do ano até o momento
Sault - “10” (Forever Living Originals)
O Sault é um grupo curioso: ninguém sabe ao certo quem são, apenas que o produtor Inflo e a cantora e compositora Cleo Sol estão na linha de frente – quer dizer, mais ou menos, já que não dão entrevistas, nem divulgam nenhum material sobre eles. Em seis anos de existência, são 12 álbuns lançados, dois EPs e a manutenção desse mistério. Em “10”, eles apelam ao R&B clássico dos anos 1970 e 1980 com aquela pitada de pop que fez do gênero um estouro no período, misturada com gospel, recheada com guitarras, um baixo bem sensual e uma bateria de dar inveja a qualquer homem, branco e heterossexual. Disponibilizado de surpresa, assim como muitos outros discos da discografia, esse novo eleva ainda mais o material do grupo ao mostrar como é possível fazer uma ótima música sem fazer alarde.
Avaliação: ótimo
Model/Actriz - “Pirouette” (True Panther)
Parece que a segunda década dos anos 2020 marca definitivamente a volta do industrial e do noise na música mainstream — até Lady Gaga tem músicas do estilo no novo disco. No segundo álbum de estúdio em dois anos, o Model/Actriz, banda formada em Boston e radicada em Nova York, mostra a força dos gêneros em canções potentes do início ao fim. Claro, há espaço para momentos mais lentos, caso de “Acid Rain”, mas, no geral, é só pancada do início ao fim em uma dessas gratas surpresas de uma banda que não conhecia e passei a gostar.
Avaliação: muito bom
Stereophonics - “Make 'em Laugh, Make 'em Cry, Make 'em Wait” (EMI)
Como muitas bandas britânicas do início dos anos 1990, Stereophonics foi um grande fenômeno no período e viveu o sonho juvenil de fazer sucesso com música. Quase três décadas após o lançamento do primeiro disco de inéditas, muita coisa mudou — a formação, inclusive. Mas eles seguem firmes e fortes com o novo álbum de estúdio, o 13º da longa carreira. Mais melódico do que nunca e apostando na boa combinação de letras simples e arranjos certeiros, eles apresentam um pop simples, honesto e esperançoso. Em tempos estranhos, com as pessoas tomadas pela incerteza e tarifadas, ouvir um disco assim dá aquele quentinho no coração de as coisas vão melhorar em algum momento.
Avaliação: bom
Melvins - “Thunderball” (Ipecac)
O Melvins é uma banda de história muito consistente ao longo de 40 anos de existência e mantém isso no novo disco de inéditas. “Thunderball” não soa muito diferente do antecessor ao apostar em canções bem longas, como “Short Hair with a Wig” ultrapassando os 11 minutos de duração. Com as guitarras bem altas mais uma vez e apostando na força dos outros instrumentos como catalisadores da essência da banda, o trabalho funciona para mostrar como esses sobreviventes continuam firmes e fortes na própria missão — um desses milagres que só a música pode dar aos fãs.
Avaliação: muito bom
Blondshell - “If You Asked For a Picture” (Partisan)
Se você acha que o pop rock dos anos 1990 morreu ao final daquela década, você está redondamente enganado. No segundo disco de estúdio da carreira, Blondshell, projeto musical da cantora Sabrina Mae Teitelbaum, revive o sub gênero com exatamente os elementos que o fizeram ter sucesso: os dramas pessoais. De romances finalizados a problemas familiares, ela traz a visão de alguém com 20 e poucos anos, que entrou nos 30 anos e vê o mundo com extrema cautela e se apega aos poucos momentos felizes. Com bons arranjos e refrões bem escritos, ela consegue traduzir esses sentimentos com franqueza de quem está pronta para os novos desafios da vida, sempre com um pé atrás e cheia de energia.
Avaliação: muito bom
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