Cinco discos que ouvi nos últimos dias #5
Só uma galera mais veterana na edição da semana
Mumford & Sons - “Rushmere” (Island)
O Mumford & Sons estava há sete anos sem um disco de inéditas, um tempo muito longo e quase fatal para alguns artistas. E eles, de alguma forma, conseguiram se manter no imaginário das pessoas e nas playlists. “Rushmere”, quinto álbum de estúdio do agora trio, traz músicas leves e tranquilas, mas soa como um regresso na carreira, lembrando o Coldplay. O grupo inglês começou com baladas melancólicas grandiosas e o próximo passo foi a infantilização do som, atraindo jovens e colocando de lado dos velhos fãs. Os americanos parecem ir por um caminho semelhante em um trabalho calcado no folk, sem qualquer ousadia ou ponto fora da curva.
Avaliação: ruim
Unknown Mortal Orchestra - “IC-02 Bogotá” (Jagjaguwar)
A Unknown Mortal Orchestra poderia ser muitas coisas desde o lançamento do primeiro disco lá em 2011, mas eles optaram pelo caminho mais criativo ao buscar a liberdade sonora. Em “IC-02 Bogotá”, eles continuam explorando a música instrumental feita em “IC-01 Hanoi” (2018), como o próprio nome diz, olhando para a música colombiana e como a mistura dos ritmos locais podem se encaixar no trabalho feito por eles logo no primeiro single, uma faixa com mais de 11 minutos de duração. O disco traz sintetizadores, instrumentos de corda e tambores misturados em temas experimentais muito bonitos e pouco ouvidos por aí. É um prato cheio para quem gosta.
Avaliação: muito bom
Perfume Genius - “Glory” (Matador)
Mike Hadreas fez do Perfume Genius não só um projeto musical de relativo sucesso, mas um jeito de falar sobre a vida de maneira melancólica, um sintoma de uma sociedade pós-pandemia que vive tudo de uma vez no fim de semana e fica triste quando o “Fantástico” começa. O novo álbum de estúdio centraliza esses pensamentos em músicas de grande apelo em que ele varia entre o minimalismo e momentos explosivos, exatamente como as pessoas andam se comportando na realidade e na internet, no álbum mais colaborativo do projeto até o momento (com participações de Blake Mills, Alan Wyffels, Meg Duffy, Tim Carr, Greg Uhlmann, Pat Kelly, Aldous Harding e Jim Keltner). Em tempos tão bicudos, é importante que alguém consiga traduzir esses sentimentos e ainda ousar nos arranjos em um álbum cativante e comovente na mesma medida.
Avaliação: ótimo
Alison Krauss & Union Station - “Arcadia” (Down the Road)
Possivelmente, o mundo conheceu Alison Krauss no álbum “Raising Sand” (2007), parceria com Robert Plant, mas ela já tinha uma carreira solo de sucesso nos Estados Unidos e também quando acompanhada pela banda de bluegrass Union Station desde os 18 anos. Após quase 15 anos, eles retomam a parceria com “Arcadia”, um disco delicioso de ouvir do início ao fim. Ao misturar o repertório próprio com gravações de outros artistas, a banda mostra-se afiada em contar boas histórias que só o velho country consegue produzir. Outro ponto positivo é a troca de vocais o tempo inteiro, um revezamento que ajuda a equilibrar as canções mais animadas com as mais tristonhas.
Avaliação: muito bom
Bryan Ferry & Amelia Barratt - “Loose Talk” (Dene Jesmond)
Quando Bryan Ferry e Amelia Barratt anunciaram um disco em parceria, pensei em qualquer coisa, menos um álbum de spoken word (quando as letras são declamadas, não cantadas). “Loose Talk” soou chato no começo, mas acabou me ganhando na segunda audição, feita com mais calma. Ferry tem um talento inigualável para melodias, ainda mais quando sabemos que a maioria do repertório são demos acumuladas desde os tempos de Roxy Music. Mas o que pega mesmo é a interpretação de Barratt, uma coisa artística e interessante de ouvir por ser apenas palavras declamadas. Ela sente algo ao dizê-las? Não tem como saber. E é isso que torna o trabalho diferente e pode atrair a curiosidade das pessoas.
Avaliação: muito bom
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