Cinco discos que ouvi nos últimos dias #4
Só com artistas independentes que lançaram novos discos no último mês
Lonnie Holley - “Tonky” (Jagjaguwar)
Lonnie Holley tem uma história rica nas artes, com exibições em alguns dos principais museus do mundo, mas, para chegar lá, passou por poucas e boas como todo afro-americano nascido durante o período de segregação nos Estados Unidos. Com quase 50 anos de carreira, sendo menos de 20 como cantor, ele usa a música como outra forma de exibir o próprio ponto de vista sobre o mundo em performances mais faladas do que cantadas. Em “Tonky”, traz o apelido de infância para falar de preconceito, trabalho duro, esperança, violência e perseverança em canções cheias de convidados e com total liberdade para fazer o necessário para tudo fluir como uma única onda aos ouvintes. Não é um disco fácil, afinal ele opta por camadas sonoras e experimentalismo incomuns para pessoas desacostumadas a isso. A mensagem é clara: ele não vai ceder um centímetro com relação às próprias crenças.
Avaliação: muito bom
Circuit des Yeux - “Halo On The Inside” (Matador)
A mudança sempre algo difícil, principalmente quando a solidão é a única companheira. Esses são os temas de “Halo On The Inside”, novo disco de Circuit des Yeux, projeto musical de Haley Fohr. Feito inteiramente entre 21h e 5h da manhã, o álbum explora a influência do industrial com uma dança soturna que mistura sons e cria um clima sombrio ao longo de pouco mais de 40 minutos de duração. Mas, muito mais do que olhar para os instrumentos, é ser guiado pela voz de Fohr para muito mais declamar as letras do que cantar esses experimentos que parecem saídos de improvisos feitos ao longo de toda madrugada até o início da manhã. É tudo muito brutal, melancólico e faz pensar.
Avaliação: muito bom
Jason Isbell - “Foxes in the Snow” (Southeastern)
Jason Isbell é um trabalhador da música. Suficientemente famoso em um determinado nicho para viver de música, ele conseguiu fazer a transição de um dos integrantes do Drive-By Truckers para uma carreira solo de relativo sucesso, acompanhado pela The 400 Unit. Uma década após o último disco solo, ele retorna ao formato solo com um álbum inspirado pelo divórcio de Amanda Shires, de quem foi companheiro de banda por 11 anos, e pelo novo relacionamento com a artista plástica Anna Weyant. Indo entre o fatalismo da solidão e a empolgação de um novo romance, ele apresenta um repertório simples e inteiramente baseado no violão, deixando claro que a mensagem é muito mais importante do que qualquer rebuscamento.
Avaliação: bom
Astropical - “Astropical” (Sony)
O conceito de supergrupo é imensamente debatido até hoje, com o principal argumento sendo que uma banda assim precisa ter músicos famosos de verdade para carregar esse título. Quem acerta em cheio nisso no mercado latino-americano falado em espanhol é o Astropical, formado por integrantes do Bomba Estéreo (Li Saumet e José Castillo) e do Rawayana (Beto Montenegro e Andrés Story). “Astropical”, inspirado na astrologia, traz músicas animadas e feitas para dançar em uma mistura de ritmos caribenhos, eletrônica e muitas referências locais nos momentos mais calmos. A união de dois gigantes não poderia ter dado mais certo em um momento de valorização das raízes de do orgulho em ser latino.
Avaliação: muito bom
Deep Sea Diver - “Billboard Heart” (Sub Pop)
Com quase 20 anos de atividade, o Deep Sea Diver é aquela banda que é a cara de uma gravadora — no caso, a Sub Pop. Cinco após “Impossible Weight”, eles retornam como um novo álbum de estúdio, ainda soando como um grupo independente que busca um lugar ao sol. A vocalista Jessica Dobson segue como destaque em canções lancinantes sobre desejo, enquanto os riffs de Elliot Jackson seguem potentes e diretos para acompanhar as músicas. Os sintetizadores também estão presentes e ajudam a criar o clima necessário para destacar uma banda com um futuro brilhante pela frente.
Avaliação: muito bom
Assine
Por apenas R$ 5 por mês ou R$ 50 no plano anual, você ajuda a manter o trabalho por aqui e fortalece o jornalismo independente. É importante porque o algoritmo do Google e a inteligência artificial, em outras palavras, estão f*dendo meu trabalho no site.
Veja também:
Cinco discos que ouvi nos últimos dias #3
Sharon Van Etten & the Attachment Theory - “Sharon Van Etten & the Attachment Theory”
Quando uma discografia é mal tratada
O mundo anda cada vez mais efêmero. A velocidade dos acontecimentos é brutal e é cada vez mais impossível acompanhar as coisas. Respirar um pouco é preciso. Na música, isso parece cada vez pior, com tudo rolando na velocidade cinco do créu, e eu me sinto cada vez mais perdido na quantidade insana de lançamentos semanais que coloco por aqui ou nas atuali…
Crítica: Japanese Breakfast - For Melancholy Brunettes (& Sad Women)
A vida de Michelle Zauner mudou complemente ao perder a mãe há mais de uma década. Para muitos, poderia ser o golpe definitivo em qualquer realização de um sonho, mas, como por um milagre, a carreira musical dela decolou ao deixar o grupo Little Big League para fundar o projeto pessoal Japanese Breakfast. A carreira caminhava relativamente bem no circui…
Gostou do meu trabalho? Mande a newsletter para um amigo e compartilhe nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp e Telegram!
Boa semana a todos!