Cinco discos que ouvi nos últimos dias #3
Toda escolha tem uma consequência, já diria uma professora de inglês que tive
Sharon Van Etten & the Attachment Theory - “Sharon Van Etten & the Attachment Theory”
Três anos após o lançamento de “We've Been Going About This All Wrong”, Sharon Van Etten retorna com a companhia da Attachment Theory, banda com quem divide o título do álbum de estreia da parceria. Uma das boas cantoras dos últimos 20 anos, ela busca novos caminhos em canções soturnas e cheias de elementos eletrônicos de ar oitentista, mas quase nada consegue ser atraente a ponto de prender a atenção. Passei alguns dias ouvindo diariamente e parece faltar alguma coisa, como se entrasse em uma sala cheia de espelhos sem saber onde fica a saída. “Idiot Box”, “Somethin' Ain't Right” e “Southern Life (What It Must Be Like)” são os destaques de um álbum que estava muito ansioso para ouvir, mas acabei não gostando tanto quanto esperava.
Avaliação: bom
Squid - “Coward”
O ótimo “O Monolith” colocou o Squid no meu radar nos últimos anos, sendo uma das boas bandas surgidas nos últimos anos. Se eles dobraram a aposta com relação ao disco anterior, eles pisam ainda mais fundo “Coward” ao explorar temáticas bem pesadas em colagens musicais que vão de Talking Heads a Radiohead sem o menor receio de, às vezes, essa mistura estar na mesma música. Ao falar do mundo de maneira apocalíptica, eles colocam o dedo na ferida sobre nós mesmos e como queremos viver esse mundo. E, mais uma vez, eles usam artifícios muito poderosos para falar de tudo isso de um jeito muito único e muito próprio.
Avaliação: muito bom
Guided by Voices - “Universe Room”
Robert Pollard, aos 67 anos, diminui o ritmo de lançamentos do Guided By Voices após passar cinco anos lançando um disco a cada quatro meses em média. Se em 2024 a banda soltou apenas um disco, esse ano parece que “Universe Room” será o único trabalho (mas eu não garanto nada). Indo para o lo-fi e apostando mais uma vez em melodias bem grudentas em letras cativantes e chamativas, o novo trabalho é menos pop do que alguns dos anteriores e parte para a arena do esquisito, beirando o experimental, mas ainda funciona muito bem sob todos os aspectos, com destaque para consistência. É acima das expectativas e mostra como ele está em paz com essa formação da banda que, com nove anos, é a mais duradoura da história deles.
Avaliação: bom
The Lumineers - “Automatic”
É inegável o poder das melodias e harmonias na vida do Lumineers, banda liderada por Wesley Schultz (vocal e guitarra) e Jeremiah Fraites (bateria, percussão e piano). Em “Automatic”, eles abordam o mundo moderno, cheio de estímulos e verdades e mentiras, com bastante propriedade em letras muito reflexivas. O ponto alto está na delicadeza de letras como “Keys on the Table”, na potência de “You’re All I Got” e nos cinco minutos finais de “So Long” em um bom disco que merece ser ouvido, ainda que não tenha nenhuma inovação ou qualquer coisa que surpreenda.
Avaliação: bom
The Murder Capital - “Blindness”
A difícil gravação do trabalho anterior fez os integrantes do Murder Capital se espalharem pelo Reino Unido em busca de descanso e espaço para própria individualidade. O reencontro se deu durante dez dias para a composição das 12 músicas de “Blindness”, terceiro disco de estúdio. Depois, eles partiram para Los Angeles, onde encontraram John Congleton para gravar o álbum. Aliás, eles nem gravaram demos, apenas passaram de versões rudimentares das músicas direto para o estúdio. O resultado não é dos melhores porque algumas músicas realmente funcionam bem (“The Fall” e “Death Of a Giant”, por exemplo), outras precisavam de algum refinamento e mais tempo de tratamento para melhorar (“Can't Pretend To Know” e “Born Into The Fight”), mas a maioria precisava se refeita para ser minimamente aceitável sob qualquer ponto de vista.
Avaliação: ruim
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