Cinco discos que ouvi nos últimos dias #2
Eletrônico, instrumental, country e pop inofensivo estão contemplados
FKA Twigs - “EUSEXUA”
A cantora FKA Twigs retorna com “Eusexua”, terceiro disco da carreira e o primeiro em seis anos - bom lembrar que o primeiro saiu há mais de uma década. Como tudo hoje em dia, existe toda uma história conceitual por trás de tudo: do título até cada música. Mas aqui não tem espaço para isso. O fundamental é que o tempo fez bem para ela ao conseguir aprimorar a mistura de dance music pop, eletrônico, tecnno, R&B, drum n’ bass e EDM em algo feito para as pistas de dança. Esqueça o eurodance para héteros de Dua Lipa. Aqui, a cantora inglesa pisa fundo em referências cheias de estilo e com auxílio de uma orquestra comandada pelo compositor Marius de Vries e uma série de produtores dispostos a encontrar o som ideal para reviver os bons tempos do eletropop com aquela pontinha de experimental.
Avaliação: ótimo
Ela Minus - “DÍA”
Baterista de uma banda de hardcore na adolescência na Colômbia que ganhou uma vaga na prestigiada Berklee College of Music para estudar música clássica nos Estados Unidos, Gabriela Jimeno Caldas tinha toda chance do mundo para se tornar uma musicista de jazz respeitada. Mas acabou entrando de cabeça na cena noturna de Boston, onde conheceu profundamente os artistas locais e aprendeu todos os truques do sintetizador. “Acts of Rebellion”, primeiro álbum de estúdio, poderia tê-la colocado em um lugar importante entre as revelações de 2020, mas a pandemia chegou com tudo para atrapalhar os planos. Só agora, com “DÍA”, ela retorna mais forte do que nunca e ainda mais determinada em não só colocar as pessoas para dançar, mas refletir e contar a história de todo sufoco financeiro e pessoal dos últimos anos, quando pulou de lugar em lugar sem saber como chamar aquilo de lar. E ela é muito habilidosa em unir tudo isso numa mistura potente de pop eletrônico e industrial.
Avaliação: muito bom
Ludovico Einaudi - “The Summer Portraits”
Compositor das trilhas sonoras de “Intocáveis” (2011), “Promessas de Guerra” (2015), “Meu Pai” (2021), “Nomadland” (2021) e outros, o italiano Ludovico Einaudi celebra os 45 anos de carreira com o lindíssimo álbum instrumental “The Summer Portraits”. Inspirado pelas férias de verão na infância, ele traduz em música esse sentimento melancólico de um tempo que não volta mais e, ao mesmo tempo, usa a delicadeza para pontuar a felicidade desse pedaço da construção da própria identidade como individuo. Ao longo de pouco mais de uma hora, é possível sentir uma profunda conexão com lugares e pessoas, em lembranças contadas segundo a própria memória, não em uma determinada ordem. A beleza do piano combinada com a simplicidade dos instrumentos de corda faz do álbum um material importante para ser ouvido em tempos de cólera ao trazer uma paz inesperada.
Avaliação: ótimo
Bonnie “Prince” Billy - “The Purple Bird”
Bonnie “Prince” Billy (Will Oldham) é um desses artistas independentes que trabalha sozinho em praticamente todos os aspectos dos próprios álbuns e, geralmente, conta com uma ajuda dos amigos para acrescentar um instrumento aqui e ali. Em “The Purple Bird”, ele conta com um produtor de fora pela segunda vez na carreira. E foi papel de David “Ferg” Ferguson ajudá-lo na construção de um álbum country gravado inteiramente em Nashville, casa oficial do gênero nos Estados Unidos, cheio de convidados locais que abrilhantam as profundas letras reflexivas sobre a vida em um momento muito diferente do país. A dupla acerta precisamente nas melodias e na construção das faixas, deixando um gostinho de quero mais.
Avaliação: muito bom
Metal Bubble Trio - “Cucumber”
Conhecido pela banda Fun, Andrew Dost largou a carreira para virar compositor de trilhas sonoras de filmes independentes, mas a saudade bateu e ele retorna com um novo projeto musical, o Metal Bubble Trio, que lança “Cucumber” como álbum de estreia. É aquele disco bobinho, sol, verão sem preocupação, violão, alegria, melancolia, bocozinho, inofensivo e bem esquecível, na linha jazz, bossa nova, easy listening e feito para americano alienado ouvir enquanto Donald Trump coloca fogo mundo. Enfim, nada muito especial que seja passível de qualquer lembrança futura.
Avaliação: bom
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Coletâneas me fizeram gostar de música
Em meados dos anos 1990, a economia no Brasil começava a ter certa estabilidade graças ao plano Real. Sem precisar correr ao mercado para comprar as coisas antes do aumento de preços do dia e conseguir equilibrar as contas, sobra dinheiro para outras coisas, de preferência ligadas ao entretenimento. Uma dessas coisas era a compra de CDs.
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