Crítica: Viagra Boys - Viagr Aboys
Banda lança o quarto álbum de estúdio, sucessor de "Cave World", de 2022
Viagra Boys é uma banda sueca que comemora dez anos de atividade em 2025, uma história muito curta, mas suficiente para atrair uma legião de fãs pelo mundo no período. Com canções espirituosas, eles vêm abordando a loucura do mundo nos últimos anos ao falar de temas como a paranoia da extrema-direita e masculinidade tóxicas, temas importantes para entender esse primeiro quarto do século XXI. Em “Viagr Aboys”, um ótimo nome para o quarto álbum de estúdio, eles mudam um pouco a abordagem para algo mais pessoal com um tom satírico e muita honestidade.
Eles já começam o trabalho com a melhor canção do disco: “Man Made of Meat” é uma grande zombaria ao modo de vida de quem mora nos Estados Unidos, país que a banda passou quando abriu os shows da turnê do Queens of the Stone age no ano passado. Entre zombaria e ironia, a letra é potente e ganha muito com o baixo presente o tempo inteiro com um riff de guitarra contagiante. Depois, a banda parte para refletir sobre o envelhecimento (“The Bog Body”), fala da política local usando a visão de um cachorro (“Uno II”) e aborda a ilusão do controle ao seguir gurus de redes sociais que dão dicas malucas diariamente na internet (“Pyramid of Health”).
Essa sequência de músicas mostra a força da banda não apenas em usar o bom e velho punk para colocar o ponto de vista e também ao usar outros recursos musicais mais calmos para colocar essas ideias. É muito difícil encontrar coesão ao ouvi-las na ordem, mas funciona ao passar essa ideia de mundo. Tudo muda na potente e furiosa “Dirty Boyz”, uma faixa que mais parece um filme de terror com apoio dos sintetizadores, e em “Medicine for Horses”, um lamento tragicômico do fim de tudo naquele esquema de falar uma coisa com aquele fundo de verdade (“Put it in a mason jar and give it to a child/ Tell them to recreate mе in a couple hundred years whеn we're all dead/ Kiss my wife, tell her I love her/ Tell her she was the only thing that made me stop thinking 'bout/ The plains of North America/ The great plains of North America”).
O lado mais sombrio do álbum segue presente “Waterboy”, quando eles falam de alguém meio caótico, sem perspectiva e sempre por um fio em todos os aspectos da vida, sem achar isso errado mesmo com todos os avisos. É outra canção com destaque para a guitarra e os sintetizadores, unidos para criar um clima único, como na irônica “Store Policy”, quando até os brutos têm regras claras.
A confissão catártica de “You N33d Me” é importante para entender os sentimentos do vocalista Sebastian Murphy em uma letra pessoal de como ser o centro das atenções pode ser uma coisa boa – até todo mundo se cansar de você (“I can make your girl stop what she's doin' and turn around and watch me do my little dance/ I can drink about fifteen beers or twenty-five, it depends on the can/ I can drop some historical facts about wars in Europe that you know nothing about/ But it doesn't mean anything if you ain't here with me 'cause I need you and you need me [You need me)]”).
Como um pastor na TV, Murphy apela para narrativas absurdas em “Best in Show Pt. IV”, uma música nascida para mostrar como o Viagra Boys evoluiu musicalmente nos últimos anos. E a balada esperançosa “River King”, surpreendentemente, encerra o álbum ao valorizar as pequenas coisas da vida, em que toda experiência ganha um significa ao ter o amor ao lado. É difícil não terminar comovido ao ouvir o esforço de Murphy para cantá-la do jeito mais baixo e delicado possível.
Sabe aquele trabalho, seja um disco, uma série ou uma novela, que funciona como ponto de virada para mudar a vida de alguém? É o caso do novo disco do Viagra Boys. Usando todo tipo de recurso musical para encorpar o som e contar ótimas histórias em letras que misturam o real e o surreal, eles estão prontos para dar um passo além e abrir o leque a um público ainda maior. Tomara que seja o início do nascimento de uma grande banda.
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Tracklist:
1 - “Man Made of Meat”
2 - “The Bog Body”
3 - “Uno II”
4 - “Pyramid of Health”
5 - “Dirty Boyz”
6 - “Medicine for Horses”
7 - “Waterboy”
8 - “Store Policy”
9 - “You N33d Me”
10 - “Best in Show Pt. IV”
11 - “River King”
Avaliação: ótimo
Gravadora: Shrimptech Enterprises
Produção: Viagra Boys & Pelle Gunnerfeldt
Duração: 37 minutos
Oskar Carls: guitarra (faixas 1, 2, 4, 5, 7 e 9), saxofone (faixas 2 a 4, 6 e 8 a 10), flauta (faixas 3 e 8), vocal de apoio (faixas 5 a 7) e clarinete baixo (faixa 11)
Linus Hillborg: guitarra (faixas 1 a 10)
Henrik Höckert: baixo (faixas 1 a 10)
Elias Jungqvist: sintetizadores (faixas 1 a 10), piano (faixas 6 e 10), vocal de apoio (faixa 7) e sampler (faixa 11)
Sebastian Murphy: vocal
Tor Sjödén: bateria (faixas 1 a 10), percussão (faixas 2, 3, 5 e 10) e vocal de apoio (faixa 7)
Pelle Gunnerfeldt: percussão (faixas 4 e 7 a 10), guitarra (faixas 4 e 8); violão e piano (faixa 4); sintetizador (faixas 8 e 10)
Klara Keller: vocal de apoio (faixas 3 e 6)
Anneli Törnkvist, Ellinor Lindahl e Lovisa Birgersson: vocal de apoio (faixa 10)
Lalo Cissohko: percussão (faixa 10)
Robin Schmidt: masterização
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