Quando uma banda acaba, fica aquele gostinho de quero mais na boca de todos os fãs. É quase como perder o melhor amigo, aquela pessoa que te acompanhou nas boas e nas ruins. Mas, pelo menos para mim, mudar de nome tem quase o mesmo efeito. Chamado anteriormente de Viet Cong, o agora Preoccupations mudou por conta das reclamações envolvendo o histórico — era a forma pejorativa como os americanos chamavam os cidadãos do Vietnã do Norte antes de levar uma surra de precisar sair correndo com as calças nas mãos em 1975.
O novo nome não mudou como essa banda canadense gosta de fazer música, muitíssimo inspirados no pós-punk do final dos anos 1970 e início da década seguinte. Quinto trabalho de estúdio, contando com “Viet Cong”, “Ill at Ease” chega para mostrar que eles estão melhores e mais inspirados do que nunca. Para quem gosta do gênero, o álbum é só pancada do início ao fim. Primeiro com “Focus”, de ar sombrio, sintetizador soturno e mal-encarada como um segurança na porta da balada (“The diagnosis is/ I'm doing my best/ To forget everything that I know/ But I can't shake the shame of mistakes that I made/ It must of happened here a thousand years ago”).
Depois, o sintetizador é protagonista na pesada e recheada de melancólica “Bastards” e ajuda no andamento da faixa-título, uma espécie de lamento pós-punk que ganha muito com uma espécie de pop melódico antes da segunda parte (“Let's carve ourselves a tiny space to live in/ And mutually assure our self destruction/ Cause all the things I love are things that kill me/ And all the things I dread aren't really there”).
O clima fica ainda mais soturno em “Retrograde”, uma música bem longa que ajuda muito se for apreciada sem distrações e prestando bem atenção em todos os detalhes — ou seja, nunca ouça no Spotify. Então, eles aceleram as coisas na ótima “Andromeda”, com uma guitarra à Johnny Marr dando o ritmo necessário para colocar o ouvinte para dançar sentado na cadeira mesmo e sem o menor constrangimento (“Nowhere to move, nothing to say/ We'll just pray for a collision with Andromeda/ Nowhere to go, nowhere to turn/ We'll just burn through a collision with Andromeda/ Andromeda”).
“Panic” traz um clima baixo e discreto, pontuado com a guitarra e a bateria unidas em manter o ritmo por mais da metade da música. Até que tudo muda e eles, inspirados pelo New Order, a transformam em outra coisa, um tanto mais pulsante e dançante, mas sem perder o feito no início. O clima oitentista segue na fatalista “Sken” e na sonhadora “Krem2”, as duas que encerram o trabalho.
Eu quase larguei o Preoccupations quando houve a mudança de nome pelo simples receio de eles não soarem mais como antes. Mas não apenas se mantiveram firmes, como ainda melhoraram. “Ill at Ease” os coloca em grande fase, mostrando que o pós-punk sempre terá para onde ir enquanto houver gente disposta a se inspirar no gênero.
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Tracklist:
1 - “Focus”
2 - “Bastards”
3 - “Ill at Ease”
4 - “Retrograde”
5 - “Andromeda”
6 - “Panic”
7 - “Sken”
8 - “Krem2”
Avaliação: ótimo
Gravadora: To Born Losers
Produção: Matthew Flegel e Scott Munro
Duração: 38 minutos
Matt Flegel: vocal e baixo
Scott Munro: guitarra e sintetizador
Daniel Christiansen: guitarra
Mike Wallace: bateria
Alana Devito: guitarra
Drew Riekman: bateria
Marlaena Moore: vocal
Marcos Muniz: piano, bateria, sintetizador e mixagem
Michael Wallace: coprodução
Mikey Young: masterização
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