Crítica: Arcade Fire - Pink Elephant
É o sétimo disco de estúdio da banda, o primeiro após as acusações de abuso e assédio envolvendo Win Butler
O Arcade Fire é uma das bandas da minha vida, aquelas que sempre cito como um dos pontos de virada entre o adolescente que ia embalo dos outros e o adolescente que passou a ter gosto próprio — e muita convicção — nas escolhas musicais. Ao longo dos anos, a banda canadense ganhou o mundo e atingiu o auge no aclamado “The Suburbs”, de 2010, ao trazer histórias muito pessoas dos irmãos Butler, Wil e Win. A partir desse momento, eles partiram para trabalhos conceituais e mais complexos musicalmente, deixando de lado a inocência e delicadeza do início em busca da grandiosidade em “Reflektor” (2013), “Everything Now” (2017) e “We” (2022), que acabou não vindo.
Inegavelmente, eles entregam boas canções nos últimos álbuns de estúdio, mas faltou muita coisa para torná-los grandes álbuns como os três primeiros. E parece que a queda não é apenas uma fase, mas um sinal de falta de algo na segunda parte da vida do Arcade Fire. “Pink Elephant”, sétimo disco da discografia, a banda se sai ainda pior ao trazer uma leva de poucas canções boas em um trabalho lançado sob a sombra das acusações de abuso sexual envolvendo Win Butler.
A instrumental “Open Your Heart or Die Trying” abre o trabalho com os sintetizadores dando uma mostra do tom do disco, reflexo desse momento no mínimo complicado na vida dos integrantes. “Pink Elephant” e “Year of the Snake” segue com Butler e Régine Chassagne parecendo trocar palavras um com outro sobre si em canções que abordam solidão e coração partido, sempre com arranjos melancólicos e vocais tristes. Uma fagulha surge em “Circle of Trust”, de refrão grudento, inspiração oitentista e, até certo ponto, meio contagiante.
Outra boa faixa é “Alien Nation”, de ar futurístico e com um recado na parte final (“I return to all my enemies/ All the pain they would like to or could have caused me/ I return this evil to them with love/ In the name of the alien nation”). Mas aí a melancolia retorna com tudo na instrumental “Beyond Salvation” e no desabafo “Ride or Die”, abrindo espaço para “I Love Her Shadow” brilhar assim que surge — um alento honesto de refrão empolgante em meio a essa sequência que também soa estranha, como se pairasse uma grande névoa.
Antecipada pela terceira faixa instrumental, “Stuck in My Head” é um grito desesperado sobre estar com a cabeça cheia e estar no limite. Se é um recado diretamente para alguém eu não sei, mas é inegável que toda essa raiva faz do encerramento do álbum um grande momento ao apresentar toda honestidade possível em meio a um momento de desespero.
“Pink Elephant” é um álbum triste e vive das fagulhas dos bons momentos. Não que os últimos três fossem geniais ou algo assim, mas esse novo trabalho carece dos elementos que transformaram o Arcade Fire em uma grande banda. Buscar a grandeza não é um defeito e a ambição musical não deve ser vista de olhos tortos é uma coisa, conseguir isso a qualquer custo é outra. Aqui, eles soam melancólicos e sem energia, um possível reflexo dos últimos acontecimentos.
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Tracklist:
1 - “Open Your Heart or Die Trying”
2 - “Pink Elephant”
3 - “Year of the Snake”
4 - “Circle of Trust”
5 - “Alien Nation”
6 - “Beyond Salvation”
7 - “Ride or Die”
8 - “I Love Her Shadow”
9 - “She Cries Diamond Rain”
10 - “Stuck in My Head”
Avaliação: regular
Gravadora: Columbia
Produção: Win Butler, Régine Chassagne e Daniel Lanois
Duração: 42 minutos
Win Butler: violão, vocal de apoio, baixo, cowbell, címbalo, bateria eletrônica, bateria, glockenspiel, mellotron, órgão, guitarra Pedal Steel, sintetizador, teremim, tímpano e piano Wurlitzer
Régine Chassagne: vocal, baixo, sinos, bateria, mellotron, sintetizador e teremim
Richard Reed Parry: baixo, guitarra Pedal Steel e programação
Tim Kingsbury: violão e baixo
Brian Blade: bateria
Jeremy Gara: bateria e sintetizador
Daniel Lanois: guitarra Pedal Steel
Marley Mackey: sintetizador
Sarah Neufeld: violino
Eric Heigle: coprodução e engenheiro de gravação
Paula Mariño: engenheira de som e assistente de gravação
Emily Eck: assistente de gravação
Marc-Olivier Germain: masterização
Jerry Ordóñez: engenheiro de gravação, mixagem e coprodução
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Não escutei esse ainda. Vou ouvir aqui. Eu amo o Reflektor com todo o meu coração, acho um álbum lindo e muito gostoso de ouvir.