Crítica: Panda Bear - Sinister Grift
Conhecido pelas colaborações, Noah Lennox traz o primeiro disco solo em cinco anos
Noah Lennox, um dos integrantes do Animal Collective, tem uma carreira solo de respeito e vem se notabilizando pelas colaborações nos últimos anos — a mais recente foi com Sonic Boom, em “Reset”, lançado em 2022. Ele segue com essa grande noção de colaboração em “Sinister Grift”, primeiro disco solo em cinco anos, quando traz os companheiros de banda e convidados especiais em canções envolventes do início ao fim sobre ele mesmo e o mundo.
Em uma nova fase da vida, ele começa o álbum falando da relação com o filho (“Praise”) e como isso pode ser truncado e quase sem nuance por conta do momento vivido pelo adolescente. É incrível como Lennox consegue entregar uma letra pop e de andamento simples sobre algo tão profundo e complexo como uma relação entre um pai perdido e um filho confuso (“And so we do/ Another dance/ I make it up with you/ I'm moving and I'm watching how you do”).
Ao conquistar o ouvinte logo de cara, fica difícil não ficar comovido pela balada melosa “Anywhere but Here”, com Nadja Lennox dividido o vocal com o pai, pelo desabafo em “50mg”, como é necessário enfrentar as dificuldades da vida, apesar dos pesares (“Ends Meet”) e a luta para se livrar das coisas ruins é constante, mas necessária (“Just as Well”). As letras espertas, a brincadeiras com instrumentos e efeitos tornam essa sequência deliciosa, ainda que a temática do disco não seja leve.
Lennox divide do álbum em duas partes, com “Ferry Lady” sendo o início da segunda. De novo, ele traz um tema pesado: um relacionamento que termina lentamente com as pessoas se distanciando e não se reconhecendo mais (“Thought we'd be friends again/ Pushed to the end, we can, but we don't/ The days we spent, now we don't care/ Thought we'd be friends again/ Now I'm back on the bow”). E em “Venom's In” é possível sentir o desespero do personagem principal ao querer evitar a mudança a qualquer custo, mas não tem como pará-la. São duas músicas adultas do ponto de vista narrativo e maduras do ponto de vista musical.
Quando os conflitos pessoais ficam muito pesados, ele apresenta a balada melancólica “Left in the Cold” e o drama pessoal à medida que envelhece em “Elegy for Noah Lou”, uma das primeiras músicas a serem escritas e base para as outras (“When the season's gone/ Looking for land to land on/ When the day has broke/ Looking for words never spoke”). Para encerrar, a guitarra de Cindy Lee é bem presente em “Defense”, quando, apesar do receio, o jeito é tentar aproveitar ao máximo as coisas mesmo com as decepções pelo caminho.
Definitivamente, Panda Bear chegou no melhor momento criativo da carreira em “Sinister Grift” em um repertório do jeito que a gente gosta: bom para ouvir e reflexivo para entender. Aqui, ele usa elementos muito simples no trabalho mais pop de uma carreira solo cheia de experimentos e avanços musicais. Noah Lennox evolui profundamente e dá o passo necessário para chegar em mais gente.
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Tracklist:
1 - “Praise”
2 - “Anywhere but Here”
3 - “50mg”
4 - “Ends Meet”
5 - “Just as Well”
6 - “Ferry Lady”
7 - “Venom's In”
8 - “Left in the Cold”
9 - “Elegy for Noah Lou”
10 - “Defense” (featuring Cindy Lee)
Avaliação: ótimo
Gravadora: Domino
Produção: Noah Lennox & Josh Dibb
Duração: 44 minutos
Noah Lennox: vocal, guitarra e baixo; percussão (faixas 1 a 7), bateria (faixas 1 a 6 e 10), sintetizador (faixas 1 a 6), piano (faixa 7) e efeitos (faixa 8); engenheiro de som
Josh Dibb: mixagem e engenheiro de som; sintetizador (faixas 5 e 6), percusssão (faixa 8) e piano (faixa 10)
Brian Weitz: efeitos (faixas 1, 3, 4, 6, 8 e 9)
Maria Reis: vocal de apoio (faixas 1 e 4)
Rivka Ravede: vocal de apoio (faixas 1 e 4); arte da capa
Nadja Lennox: vocal (faixa 2)
Walsh Kunkel: guitarra lap steel (faixas 3, 7 e 8)
Dave Portner: noises (faixa 4)
Cindy Lee: guitarra (faixa 10)
Steven Lind: engenheiro de som da guitarra (faixa 10)
Heba Kadry: masterização
Paul Mercer: assistente de mixagem
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