Crítica: Lady Gaga - Mayhem
É o sexto álbum de estúdio da cantora, o primeiro desde 2020
A grande notícia musical desse primeiro trimestre deveria ser o retorno de Lady Gaga cinco anos após “Chromatica”, lançado em maio de 2020, ainda no início da pandemia. Mas ela nunca ficou de fora do noticiário, principalmente por estrelar dois filmes de repercussão (e não julgo se boas ou ruins): “Nasce Uma Estrela” (2018) e “Coringa: Delírio a Dois” (2024). O tal retorno significa que “Mayhem”, sétimo álbum de estúdio, agradou mais aos fãs do que os anteriores. Mas o que isso significa?
O início forte com a melancólica “Disease”, que traz a força do industrial para falar sobre os próprios demônios, e “Abracadabra”, o grande novo hit viciante da cantora e potencial música do ano por ser justamente o que as pessoas querem e esperam dela. E, convenhamos, ela faz isso muito bem (“Like a poem said by a lady in red/ You hear the last few words of your life/ With a haunting dance, now you're both in a trance/ It's time to cast your spell on the night”).
Ela mantém o ritmo ao explorar o eletrônico dos anos 2000 de maneira descarada em um ótimo refrão pegajoso (“Garden of Eden”) e ao recuar uma década em “Perfect Celebrity”, essa faixa cheia de guitarras e sintetizadores, agitada e com um pé no nu metal, e na sequência formada por “LoveDrug”, “How Bad Do U Want Me” e “Don't Call Tonight”, um estilo de música pop que soa antiga, mas acaba ganhando uma nova roupagem. Uma das mais interessantes do álbum é “Killah”, diferente de tudo que ela fez até aqui ao explorar mais elementos que remetem aos anos 1980 em produção e estilo, em uma coisa meio Prince.
Como em “De Volta para o Futuro”, ela recua mais uma década mais uma vez ao homenagear a disco music e o legado do Chic em “Zombieboy”. E o retorno ao pop eletrônico de lembrar as 7 Melhores da Pan acontece em “Shadow of a Man” - está tudo ali e quem viveu sabe (“I don't wanna fade into the darkness tonight/ Show me the light/ I don't wanna be the one to fall on the knife/ To come alive/ I'm about to be there, I'm about to be there/ Watch me, I swear/ I'll dance in the shadow of a man”).
Pela falta de uma faixa mais lenta, ela emenda três na sequência: a etérea “The Beast” explora esse lado de maneira mais suave com outro ótimo refrão, o grande ponto positivo do álbum de maneira geral; e as baladas melosas “Blade of Grass” e “Die with a Smile”, essa última com Bruno Mars e um dos grandes sucessos do ano passado, encerram o trabalho. Essa quebra de ritmo, principalmente com as duas últimas, não dá para entender. Faltou alguém colocar freio em quem bancou um álbum com 14 músicas.
Apesar do final fraco, estruturalmente, o álbum conta uma história e opta por fazer isso usando músicas de estilos diferentes. Pode soar como atirar para todo lado, mas funciona por termos Lady Gaga usando a experiência dos discos anteriores para chegar até aqui. Esse chamado “retorno” é muito mais pelo fato das pessoas terem esse desejo de ouvir sempre algo parecido com o que agradou do que explorar coisas novas. Isso significa que ela, segundo as pessoas, deveria fazer as mesmas coisas o tempo inteiro. Mas esse não é do perfil dela.
A arte é risco, seja ela qual for. O comodismo não gera nada de novo e é apenas algo feito para agradar. Lady Gaga vinha de um momento em que, depois do sucesso estrondoso, explorou novas sonoridades, derrapou e vinha em uma crescente novamente. “Mayhem” mostra, mais uma vez, que ela não tem medo de ir fundo em novas possibilidades, enquanto equilibra do que faz de melhor. Aqui, ela consegue mesclar bem tudo isso e faz do trabalho algo saboroso para todos os fãs.
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Tracklist:
1 - “Disease”
2 - “Abracadabra”
3 - “Garden of Eden”
4 - “Perfect Celebrity”
5 - “Vanish into You”
6 - “Killah” (featuring Gesaffelstein)
7 - “Zombieboy”
8 - “LoveDrug”
9 - “How Bad Do U Want Me”
10 - “Don't Call Tonight”
11 - “Shadow of a Man”
12 - “The Beast”
13 - “Blade of Grass”
14 - “Die with a Smile” (with Bruno Mars)
Avaliação: muito bom
Gravadora: Streamline/ Interscope
Produção: Cirkut, D'Mile, Gesaffelstein, Lady Gaga, Bruno Mars & Andrew Watt
Duração: 53 minutos
Lady Gaga: vocal, sintetizador, teclado, piano e piano Rhodes
Andrew Watt: guitarra, bateria, baixo, percussão, sintetizador, teclado, bateria eletrônica e violão
Cirkut: teclado, sintetizador, bateria e efeitos
Gesaffelstein: efeitos, teclado e sintetizadores
Chad Smith: bateria na faixa 6
Bruno Mars: vocal e guitarra na faixa 14
D'Mile: baixo e bateria na faixa 14
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