Crítica: Mogwai - The Bad Fire
Banda vem do sucesso de “As the Love Continues”, lançado em 2021
O Mogwai teve uma grata surpresa em 2021 com “As the Love Continues” ao chegar na primeira colocação da parada do Reino Unido. Isso seria inviável, por exemplo, no lançamento do primeiro álbum, “Mogwai Young Team”, de 1997 e perto de completar 30 anos. Os tempos são outros, mas é banda é praticamente a mesma desde os tempos da compra de linhas para telefone fixo na época da privatização, da ascensão do futuro primeiro-ministro Tony Blair na política e do enjoo sobre o resultado da final Copa do Mundo de 1998.
Eles, escoceses que levam a bandeira do país para onde vão, nunca abandonaram o lar e sempre optaram por gente de casa para ajudar na produção dos álbuns. A marca foi quebrada em “The Bad Fire”, 11º álbum de estúdio, que traz o americano John Congleton (St. Vincent, Explosions in the Sky, Franz Ferdinand, Lana Del Rey, Sharon Van Etten, Sparks) como colaborador em estúdio durante um momento extremamente difícil: a filha de Barry Burns estava gravemente doente, recebeu um transplante de medula óssea e fazia um pesado tratamento de quimioterapia para combater o câncer. Felizmente ela está bem, e isso foi comemorado na mistura de synth-pop, rock e dreampop de “God Gets You Back”, faixa de abertura do novo disco.
Mas o momento turbulento é mostrado com mais clareza na sequência instrumental formada por “Hi Chaos” e “What Kind Of Mix Is This?”. Na primeira, em quase cinco minutos e meio de duração, a música apresenta uma melancolia difícil de descrever, mas acaba pegando muito no coração de quem prestar atenção, enquanto a segunda soa mais tranquila e mais experimental. Tudo conforme a discografia da banda.
E se eles dizem muito sem precisa abrirem a boca, falam ainda mais quando cantam. “Fanzine Made of Flesh” traz um synth-pop de primeira para uma letra que mistura lembrança e desabafo de uma maneira muito única. O curioso do álbum é como, logo em seguida, chega a instrumental “Pale Vegan Hip Pain” que, de tão emocionante, me deixou com lágrimas nos olhos do primeiro ao último minuto. É essa sensibilidade que faz do Mogwai uma grande banda, porque eles enxergam coisas que pouca gente vê e traduzem esse momento em música como poucos. E eles mantêm o embalo na deliciosa “If You Find This World Bad, You Should See Some of the Others”.
Em uma das aberturas de músicas mais bonitas do ano até agora, (“Hope has come another day/ Hold me close in every way/ The other side of everything/ It's coming back inside of me/ Everyone and everything/ Coming home another way”), “18 Volcanoes” coloca o shoegaze para jogo em uma música de dar orgulho ao My Blood Valentine. O respiro vem com a animada e instrumental “Hammer Room”, soando uma celebração da vida após todos os problemas passados, e na otimista “Lion Rumpus”, inspirada na música feita entre os anos 1980 e 1990 - a guitarra alta e distorcida é o grande símbolo disso. E cereja do bolo chega com os mais de sete minutos de “Fact Boy”, música que soa como os créditos finais de um filme de ficção científica.
Entre trilhas para filmes e discos em estúdios, o Mogwai nunca abandonou a arte do abstrato e a magia em encantar usando apenas as habilidades instrumentais. “The Bad Fire” traduz um momento difícil dessa família formada pelos integrantes, que comemoram 30 anos da fundação em 2025, mas, unidos, conseguiram superar mais essa adversidade. E lembram disso de maneira melancólica, enquanto celebram a vida e aproveitam como podem o estúdio para criar música de altíssimo nível.
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Tracklist:
1 - “God Gets You Back”
2 - “Hi Chaos”
3 - “What Kind Of Mix Is This?”
4 - “Fanzine Made of Flesh”
5 - “Pale Vegan Hip Pain”
6 - “If You Find This World Bad, You Should See Some of the Others”
7 - “18 Volcanoes”
8 - “Hammer Room”
9 - “Lion Rumpus”
10 - “Fact Boy”
Avaliação: ótimo
Gravadora: Rock Action/ Temporary Residence Limited
Produção: John Congleton
Duração: 54 minutos
Dominic Aitchison, Stuart Braithwaite, Martin Bulloch e Barry Burns (Mogwai): instrumentos diversos
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