Crítica: Garbage - Let All That We Imagine Be the Light
Banda fala dos problemas atuais do mundo e torce por dias melhores
Shirley Manson está puta com o mundo e, recentemente, criticou fortemente o fato de uma matéria falar sobre o corpo dela — uma mulher com quase 60 anos. E não só isso, ela e a banda usam constantemente as redes sociais para falar das injustiças do mundo, do genocídio na Faixa de Gaza e pedir ajuda no resgate de animais. Tudo isso serve como combustível para as letras do novo álbum de estúdio do Garbage, “Let All That We Imagine Be the Light”, lançado recentemente.
Como alguns dos contemporâneos dos anos 1990, o grupo não aguentou a chegada do século XXI e parou as atividades por um tempo, mas suficiente para deixar uma lacuna importante. De volta há quase 15 anos, eles usam a força dos sintetizadores na abertura, “There's No Future in Optimism”, em um chamado a lutar por aquilo que acredita, principalmente contra o ódio e violência atuais em todos os lugares.
Inspirada no zodíaco chinês, “Chinese Fire Horse” traz uma vocalista mostrando a força que o nascimento nessa data traz atualmente em um vocal muito poderoso e cheio de energia de quem não leva desaforo para casa (“Just a fucking minute/ Who are you talking to?/ You must be mistaken, or you are drunk/ And failed to read the room/ Yeah I may be much older, so much oldеr/ Yeah, yeah so much older than you/ But I’vе still got my power in my brain and my body/ I'll take no shit from you”) — antes, quem nascia no ano do cavalo de fogo era considerada uma pessoa difícil de ser domada e explosiva.
“Hold” é delicada ao apresentar a esperança como temática de uma canção que cresce à medida que avança, em uma banda mais afiada do que nunca, assim como na dramática “Have We Met (The Void)” — Manson se apresenta como uma pessoa vulnerável e, em certo ponto, perdida e com muita raiva. E se “Sisyphus” trata o mito grego de Sísifo como a luta diária por direitos das minorias, em uma música sobre resistência em tempos difíceis, a delicada “Radical” apela aos sentimentos mais profundos para trazer alguma luz ao mundo.
A partir de “Love to Give”, o tom otimista ganha espaço no álbum com mensagens de esperança e força para lutar, caso de “Get Out My Face AKA Bad Kitty” e o ótimo refrão (“Get out my facе, don't mess with me/ We're exhausted (Get out)/ Get out my face, don't mess with us/ 'Cause you've got problems (Get out)/ We've had it up to here”), em canções mais melódicas ao lembrar que o Garbage é uma banda de rock. E a ironia do colapso do mundo colaborando para riqueza de uns poucos é clara na potente “R U Happy Now”.
O disco encerra em uma nota alta com “The Day That I Met God”, música feita quando Manson estava de cama e percebeu como estamos sempre por um fio. Então, ela resolveu agradecer pelos bons momentos e pela generosidade da vida com ela (“And so there I was/ Face to face with God/ It was everyone I'd ever loved/ And I didn't say a word/ Let's call it what it was/ It was everything I'd ever wanted”) e faz graça com o nome do remédio que a fez chegar nesse ponto.
O Garbage poderia muito bem viver apenas do passado, cantar os sucessos e ninguém abriria um chamado no Reclame Aqui por isso. Mas eles optaram por ficar na linha de frente, ajudando e trabalhando pelos outros. “Let All That We Imagine Be the Light” fala disso e também joga luz na esperança por dias melhores, sempre lembrando que direitos são uma luta diária. Como banda, eles estão ótimos; como seres humanos, eles mostram que ficar em silêncio jamais será uma opção.
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Tracklist:
1 - “There's No Future in Optimism”
2 - “Chinese Fire Horse”
3 - “Hold”
4 - “Have We Met (The Void)”
5 - “Sisyphus”
6 - “Radical”
7 - “Love to Give”
8 - “Get Out My Face AKA Bad Kitty”
9 - “R U Happy Now”
10 - “The Day That I Met God”
Avaliação: muito bom
Gravadora: BMG
Produção: Garbage & Billy Bush
Duração: 45 minutos
Shirley Manson: vocal
Duke Erikson: guitarra, teclado e vocal de apoio
Steve Marker: guitarra e vocal de apoio
Butch Vig: bateria, guitarra, teclado e vocal de apoio
Shruti Kumar: teclado e sintetizadores em "The Day That I Met God"
Billy Bush: engenheiro de som e mixagem
Heba Kadry: masterização
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