Crítica: Bob Mould - Here We Go Crazy
É o 15º disco da carreira solo do cantor que passou por Hüsker Dü e Sugar
Bob Mould é um desses heróis quase anônimos que influenciou milhares de músicos pelo mundo ao longo dos anos. É o caso: quem ouviu Hüsker Dü nos anos 1980 e o Sugar nos anos 1990, invariavelmente montou uma banda, pensou em ter uma banda ou ficou imaginando ao longo dos anos como teria sido a vida se tivesse largado tudo para montar uma banda. É praticamente impossível não gostar dele e é por isso que cada novo disco é recebido com muita alegria pelos fãs. “Here We Go Crazy”, 15º da carreira, é o mais novo trabalho.
Mas o que falar de Mould, afinal? O novo álbum de estúdio traz todas as características marcantes de uma carreira próxima dos 50 anos. Após álbuns distintos e uma pausa de cinco anos sem material inédito, “Here We Go Crazy” traz a guitarra melódica em um refrão grudento, elementos copiados por toda banda de hardcore e emo tempos depois. A pancada “Neanderthal” aborda os tempos atuais com velocidade e esperteza, deixando para “Breathing Room” o espaço para alguma esperança, fiada em um pequeno fragmento de luz do sol.
E a pesada guitarra tocada por ele? Está mais presente do que nunca na empolgante “Hard To Get”, na tristonha “When Your Heart Is Broken” (“When your heart is broken/ You feel danger in the breeze/ Every movement breaks the spell/ Run likе children, run like hell”) e em “Fur Mink Augurs”, uma crítica ao atual governo dos Estados Unidos, mas é na emocionalmente pesada “Lost Or Stolen” que Mould abre o coração em uma das canções mais tristes do ano.
Na parte final do álbum, ele mostra se craque em emendar músicas. Na primeira leva, “Sharp Little Pieces” e “You Need To Shine” combinam tão bem entre si, que fará todo sentido se for exatamente assim nas apresentações. Por fim, “Thread So Thin” e “Your Side” encerram o álbum com certo otimismo de que, apesar de tudo, as coisas dão certo (“I’ll be here for the dark times/ You’ll be there in the light/ We’re never sure what the weather might bring/ But I’m certain to be by your side”).
Toda vez que Bob Mould lança um disco, penso em colocar naquela parte com críticas mais curtas porque cometo o engano de achar que ele não tem mais nada a dizer. Em “Here We Go Crazy”, ele usa de metáforas e histórias de maneira muito habilidosa para falar dos tempos atuais, principalmente nos Estados Unidos, em que as pessoas soam cada vez mais egoísta e o isolamento em bolhas pessoas soa mais uma necessidade do que qualquer outra coisa. Enquanto existir mundo, caneta e papel, Mould sempre terá o que dizer. E que bom para nós.
Assine
Por apenas R$ 5 por mês ou R$ 50 no plano anual, você ajuda a manter o trabalho por aqui e fortalece o jornalismo independente. É importante porque o algoritmo do Google e a inteligência artificial, em outras palavras, estão f*dendo meu trabalho no site.
Tracklist:
1 - “Here We Go Crazy”
2 - “Neanderthal”
3 - “Breathing Room”
4 - “Hard To Get”
5 - “When Your Heart Is Broken”
6 - “Fur Mink Augurs”
7 - “Lost Or Stolen”
8 - “Sharp Little Pieces”
9 - “You Need To Shine”
10 - “Thread So Thin”
11 - “Your Side”
Avaliação: muito bom
Gravadora: BMG
Produção: Bob Mould
Duração: 31 minutos
Bob Mould: vocal, guitarra, percussão e teclado
Jason Narducy: baixo
Jon Wurster: bateria e percussão
Veja também:
Seu artista favorito vive de centavos
Parece que eu escrevo uma vez por mês sobre o Spotify, mas não tem muito jeito. Sabe aquele ditado “o mundo me obriga a beber”? Então, parece que o serviço de streaming sediado na Suécia insiste que eu escreva sobre qualquer assunto que não seja música. Dessa vez, saiu um novo relatório, chamado “Loud and Clear”, sobre a divisão do dinheiro ao longo de …
Crítica: Lady Gaga - Mayhem
A grande notícia musical desse primeiro trimestre deveria ser o retorno de Lady Gaga cinco anos após “Chromatica”, lançado em maio de 2020, ainda no início da pandemia. Mas ela nunca ficou de fora do noticiário, principalmente por estrelar dois filmes de repercussão (e não julgo se boas ou ruins): “Nasce Uma Estrela” (2018) e “Coringa: Delírio a Dois” (…
Crítica: Mdou Moctar - Tears of Injustice
“Queríamos fazer uma versão separada de ‘Funeral’ para as pessoas ouvirem. Estamos sempre brincando com arranjos em shows. Queríamos provar que poderíamos fazer isso em um disco também. E há todo outro lado da banda que surge quando tocamos um set simplificado. Torna-se algo novo”, explicou o produtor da banda nos EUA, Mikey Coltun, em nota divulgada pe…
Gostou do meu trabalho? Mande a newsletter para um amigo e compartilhe nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp e Telegram!