Cinco discos que ouvi nos últimos dias #8
Críticas dos novos álbuns de Pulp, Sparks, Neil Young, Miley Cyrus e Matt Berninger
Pulp - “More”
Uma das bandas mais legais surgidas na Inglaterra no final dos anos 1970, o Pulp só foi fazer sucesso mesmo no início dos anos 1990, quando o bripop começou a fazer a cabeça e os corações de uma nova geração de fãs. E, como todo grupo do período, eles encerraram as atividades, mas ficaram marcados a ponto de muita gente sentir falta (eu incluso). Quase 25 anos após o último álbum de inéditas, o retorno acontece com “More”, oitavo disco de estúdio. E que disco, um grande tratado sobre envelhecimento e todo pacote acompanhante de quem vê os jovens dominando tudo meio sem saber como isso aconteceu. “More” é um trabalho elegante, feita por gente que usa ternos bem cortados e um Jarvis Cocker cada vez menos cantor e mais crooner ao apresentar aos ouvintes os versos de maneira muito elegante do primeiro ao último minuto. É sério candidato a ser um dos melhores do ano.
Avaliação: ótimo
Sparks - “MAD!”
Há mais ou menos uma década, os Sparks foram descobertos pela nova geração graças ao disco lançado em parceria com o Franz Ferdinand, o “FFS”. E eles seguiram em alta desde então, com reconhecimento, o premiado filme “Annette” e discos de estúdio ótimos. Em “MAD!”, novo trabalho e primeiro pela gravadora Transgressive, a dupla formada pelos irmãos Ron e Russell Mael mantêm o ritmo dos últimos anos com um álbum empolgante do início do fim. O disco começa e termina forte, com destaque para sequência inicial formada por “Do Things My Own Way”, “JanSport Backpack”, “Hit Me, Baby”, “Running Up a Tab at the Hotel for the Fab” e “My Devotion”, uma prova de como eles continuam criativos após todos esses anos e seguem como uma grande influência e exemplo de persistência.
Avaliação: ótimo
Neil Young and the Chrome Hearts - “Talkin' to the Trees”
Aos 79 anos, Neil Young segue na batalha dentro e fora dos palcos. No novo disco, “Talkin' to the Trees”, ele não só montou uma nova banda, a Chrome Hearts, como segue mais afiado do que nunca e também fazendo um balanço sobre si. Afinal, a autorreferência é enorme ao longo dos quase 40 minutos de trabalho — os fãs mais velhos vão pegar rápido. Ele também ataca sem dó os tempos bicudos atuais, com referências diretas a Elon Musk e a Tesla em “Lets Roll Again” (“If you're a fascist then get a Tesla/ If it's electric, it doesn't matter/ If you're a democrat, then taste your freedom/ Get whatever you want and taste your freedom”), entre outras coisas. Ele poderia apenas viver do catálogo e relançamentos, mas segue firme e forte com posições claras sobre quem é para quem quiser ouvir. O disco está longe de ser genial, mas Young quer se posicionar no mundo. E entre tanta incerteza sobre o futuro, é um alento saber que ele ainda é um norte para todos nós.
Avaliação: bom
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Miley Cyrus - “Something Beautiful”
Miley Cyrus é uma dessas pessoas que, com pouco mais de 30 anos, viveu várias vidas em uma só. De atriz da Disney a estrela pop ainda muito jovem, ela demorou muito para encontrar a própria voz, mas conseguiu tecer o próprio caminho, ainda que cheio de curvas, assim que despirocou de vez no repertório e no visual. Em “Something Beautiful”, nono trabalho de estúdio, ela parece encontrar um rumo em alguns momentos e se mostrar tão perdida quando em outros ao atirar em várias direções, principalmente na parte final do repertório. No geral, é um álbum melhor do que os anteriores e vale o voto de confiança pelas coisas boas apresentadas na primeira metade, quando ela soa honesta e sincera sobre si e a própria voz — com um problema de saúde sério na garganta, ela não consegue manter o tom certo em vários momentos em um disco ambicioso do início ao fim.
Avaliação: muito bom
Matt Berninger - “Get Sunk”
Vocalista da banda The National, Matt Berninger lançou o primeiro disco solo naquele ano horroroso de 2020 e levou cinco anos para soltar o segundo, chamado desde 2021 de “Get Sunk”. Com algumas letras daquela época, ele reescreveu algumas delas para refletir o momento atual da própria vida após começar o tratamento contra uma depressão que o paralisou pessoal e profissionalmente por três anos. E alguém tão talentoso não pode ficar tanto tempo sem lançar nada, então o novo álbum de estúdio é um retorno cheio de meandres e detalhes que só ele poderia perceber e traduzir em palavras. Delicado e cheio de boas canções (“Bonnet of Pins”, “Frozen Oranges” e “Silver Jeep”), como Booker T. Jones, Hand Habits e outros, o trabalho é feito na medida certa para quem gosta dele solo, mas, o mais importante, é honesto do início ao fim sobre como ele estava e como ele está. É isso que importa, no fim das contas.
Avaliação: muito bom
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