Resenha: Jagged, de Alison Klayman
Quem viveu os anos 1990 e os primeiros dias dos anos 2000 sabe muito bem da importância de Alanis Morissette nas rádios, na venda de CDs e na programação da MTV Brasil, principalmente pela presença no Disk MTV, apresentado por Sarah Oliveira, ou em outros momentos da programação.
Dentro da série Music Box, um original HBO Max, uma das estrelas dos primeiros episódios é a história do arrasa-quarteirão "Jagged Little Pill", de 1995, que fez fama ao conquistar os adolescentes da época pela linguagem franca e sem rodeios em composições como "You Oughta Know", "Head over Feet" e outras ótimas canções.
O documentário consegue envolver, de início, o espectador ao contar a história de Morissette desde os primeiros dias de estrela infantil de um programa no Canadá até o momento de virar famosa com os discos lançados ainda na adolescência. Ela, como muitos, poderia ter feito fama e fortuna de outro jeito caso tivesse seguido os conselhos dos diretores da gravadora MCA. Mas não foi assim.
Com depoimentos e imagens de arquivo de vários momentos, a primeira parte do amadurecimento forçado de uma jovem em meio a pressão por altas vendagens resulta em problemas físicos e psicológicos. Quando tenta assumir as rédeas da carreira, acaba demitida e, buscando algo para si mesma e a carreira, vai para Los Angeles.
Lá, por sorte ou destino, cruza com o produtor e compositor Glen Ballard e ambos têm a vida mudada. Assim, eles começam a trabalhar no que seria "Jagged Little Pill". E, de novo por sorte ou destino, um representante da Maverick, gravadora fundada por Madonna poucos anos antes, foi o único a gostar da demo enviada. O destino de todos estava selado.
Morissette foi um estouro e até hoje é celebrada por gente como Shirley Manson, do Garbage, por apresentadoras de rádio da época ou por pessoas da indústria por abrir o caminho para mulheres e bandas lideradas por mulheres em pleno anos 1990, quando o chamado grunge reinava absoluto. Claro que só enxergavam a raiva dela e o fato de ter um homem envolvido na produção, mas o público não quis saber e a abraçou, refletindo isso nas altas vendas até hoje, quase 30 anos depois.
O documentário caminhava bem, alternando momentos mais tensos e tristes com histórias engraçadas e curiosas envolvendo a banda da turnê, que tinha entre os integrantes o baterista Taylor Hawkins, no Foo Fighters desde 1997. Mas o longa falha e feio quando a história do abuso sexual sofrido pela cantora ainda na adolescência é contada de um jeito atabalhoado em um depoimento todo cheio de edição e pouco elucidativo.
Gravaram assim? Ela contou quem foi? Por que editaram desse jeito? Não havia outra solução melhor? São algumas perguntas não respondidas, ainda mais quando ela diz textualmente que estava falando sobre o assunto publicamente pela primeira vez. E tudo fica ainda mais nebuloso ao saber que a cantora saiu abriu mão da turnê de divulgação do documentário por não concordar como a história foi contada. Só não sabemos se foi por esse motivo específico ou não.
Os momentos finais celebram a carreira de Alanis Morissette e o fato de o trabalho lançado em 1995 ter influenciado e aberto portas para várias cantoras de sucesso atualmente, além de mostrar uma cantora bastante satisfeita com a vida e a carreira até aqui.
O Music Box nasceu como uma espécie de 30 for 30, série-documental de altíssima qualidade da ESPN, do HBO Max para falar sobre música. E quais os méritos que fizeram desse trabalho jornalístico algo exemplar? A vontade em contar boas histórias e não deixar nenhuma, ou quase nenhuma, ponta solta. Ao abordar um assunto tão importante como violência sexual apenas por cima, existe um desrespeito que o 30 for 30 jamais teria com qualquer personagem. É isso que torna o documentário de Alison Klayman um trabalho pela metade, algo inadmissível para qualquer documentarista sério.
Avaliação: regular
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Notícias da semana
Segunda-feira
Surpresa
Muita gente dá o CD como acabado devido ao streaming e ao interesse pelo vinil, porém o Reino Unido mostra que o formato também está perto do "morri, mas passo bem".
Segundo m relatório de vendas de fim de ano da parceria entre MRC Data e Billboard, as vendas de CDs foram de 40,59 milhões de unidades em 2021, um aumento de 1,1% em relação ao ano anterior.
É o primeiro aumento anual de vendas no formato desde 2004, o último ano de força das vendas antes da pirataria tomar conta do mercado.
"30", da Adele, foi CD mais vendido de 2021 com quase 900 mil unidades vendidas. As segunda e terceira posições ficaram com Taylor Swift com "Fearless" (263 mil) e "Red" (237 mil).
Uau
A Associação de negócios da indústria fonográfica britânica (BFI na sigla em inglês) divulgou o relatório de vendas de vinis no Reino Unido. E o número impressiona.
Foram vendidos 5,3 milhões de LPs em um ano, o maior número desde 1990, um aumento de 11% em relação aos números de 2020 É o 14º ano consecutivo de crescimento da venda de vinis, que representa agora mais de um quarto das compras de formato físico no Reino Unido.
Quem contribuiu com o número foi o ABBA. Com quase 30 mil unidades, "Voyage" foi o LP mais vendido no Reino Unido no século XXI até o momento.
Fim da linha
Em entrevista ao 'The Telegraph', Elvis Costello disse que não vai mais tocar "Oliver’s Army", uma das canções mais famosas do repertório, e pediu para as rádios não tocarem mais a música.
A canção contém as estrofes: "Only takes one itchy trigger/ One more widow, one less white n—–*".
"Se eu escrevesse essa música hoje, talvez pensasse duas vezes. Era assim que meu avô era chamado no exército britânico, historicamente é um fato, mas as pessoas ouvem essa palavra e me acusam de algo que eu não pretendia", falou.
Terça-feira
Parceria prolongada
Gustavo Santaolalla e Kevin Kiner vão trabalhar juntos nos temas de "Promised Land", nova série da ABC, que estreia em 24 de janeiro. O serviço de streaming Hulu também vai disponibilizar o seriado nos Estados Unidos.
Enfim!
J. Cole, Tool e Stevie Nicks são as principais atrações do Bonnaroo, festival marcado para 16 a 19 de junho.
O evento também terá Savage, Robert Plant and Alison Krauss, Disclosure, War On Drugs, King Gizzard And The Lizard Wizard, Bleachers, Japanese Breakfast, Tove Lo, Chvrches, Nathaniel Rateliff, Herbie Hancock e mais.
Clique aqui para ver o pôster.
RIP
Burke Shelley, vocalista da banda galesa Budgie, morreu hoje aos 71 anos. Ele estava no hospital, mas a causa da morte não foi divulgada pela família.
Quarta-feira
Isso parece bom
O experiente compositor de trilhas Tyler Bates fará uma parceria com a cantora Chelsea Wolfe no filme "X", de Ti West.
O filme, caso tudo dê certo, será lançado nos cinemas em 18 de março.
Importante
A primeira parte de um documentário sobre como Evan Rachel Wood resolveu revelar os abusos sexuais sofridos quando namorava Marilyn Manson será lançado no Festival de Cinema de Sundance ainda nesse ano.
Chamado "Phoenix Rising", o longa "trata intimamente sua jornada enquanto ela se prepara para nomear o infame agressor pela primeira vez".
A segunda parte será lançada na HBO, mas ainda não existe uma data anunciada pelo canal porque a produção ainda está em andamento.
RIP
Ronnie Spector, ex-integrante das Ronettes e ex-mulher de Phil Spector, morreu hoje aos 78 anos. Ele estava com câncer, segundo nota enviada pela família.
Quinta-feira
Dentro!
Laura Karpman, que vem trabalhando em projetos recentes na Marvel, foi anunciada como compositora do filme "The Marvels", de Nia DaCosta.
O longa, que tem Brie Larson, Teyonah Parris, Iman Vellani e Zawe Ashton, estreia em 23 de fevereiro de 2023.
Não é novidade
Em entrevista à revista 'Uncut', o guitarrista Johnny Marr contou que mantém relações próximas com todos os integrantes de projetos musicais e bandas das quais participou. Menos uma pessoa.
"É uma maneira simplista de colocar as coisas, mas uma das razões pelas quais estive em tantas bandas foi porque queria ser leal a elas. Não será nenhuma surpresa quando eu disser que sou muito próximo de todos com quem trabalhei, exceto o óbvio", disse.
"E isso não é uma surpresa, porque somos muito diferentes, eu e Morrissey".
"Todo mundo com quem trabalhei foi ótimo. A única que virou uma merda foram os Smiths. O que é uma pena, mas merda acontece. Odeio falar sobre o grupo nesses termos, o grupo que eu amei. Mas vamos olhar sob [a] perspectiva [do tempo]", finalizou.
Novo projeto
Kendrick Lamar está produzindo um filme em parceria com Matt Stone e Trey Parker, os criadores de South Park.
Segundo o comunicado sobre o longa, "um jovem negro está estagiando em um museu e descobre que os ancestrais da namorada branca já foram donos de integrantes da família dele".
A Paramount é o estúdio responsável pelo projeto e existe a expectativa de, além da exibição nos cinemas, fazer parte da programação do Paramount+. Não há data confirmada de lançamento.
Lançamentos da semana
Cat Power
Bonobo
Elvis Costello & the Imposters
Garcia Peoples
FKA twigs
Trees Speak
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